Seguidores

segunda-feira, 27 de abril de 2009

PASCAL, Biaise

Matemático e físico francês nascido em Clermont-Ferrand, Auvergne, 19 de junho de 1623 faleceu em Paris, 19 de agosto de 1662.

Afortunadamente, em vista de sua curta existência e do fato de haver dedicado a últi­ma década da vida à teologia e à introspecção, Pascal logrou realizar um significativo número de coisas. Foi criança de saúde muito frágil e, de uma vez, chegou-se mesmo a pensar que morreria. Não obstante, revelou-se um prodi­gio do ponto de vista mental. Seu pai, funcio­nário do governo e também matemático, orientou-lhe a formação e, para começar, de­terminou que Pascal estudaria as línguas clás­sicas. Negou-lhe, porém, o acesso a quais­quer obras que versassem a matemática.

Ao ser inquirido sobre a origem da geome­tria e ao discorrer sobre o estudo das formas e figuras, o jovem Pascal foi adiante e desco­briu, por si próprio, as 32 primeiras proposi­ções da geometria euclidiana em sua correta ordem. (Tudo leva a crer que essa história, contada por sua irmã, seja estritamente verda­de ira.)

Com apenas 16 anos de idade, Pascal pu­blicou um livro sobre a geometria das secções cônicas que, pela primeira vez, desenvolveu o assunto muito além do ponto em que o ha­via deixado Apolônio [43] cerca de dezenove séculos antes. Descartes recusou-se a acreditar que um adolescente de 16 anos de idade pudesse haver escrito a obra, e Pascal, por sua vez, negou o valor da geometria analí­tica cartesiana. Em 1642, quando contava apenas 19 anos de idade, Pascal inventou uma máquina de calcular que, através do emprego de rodas dentadas, era capaz de somar e de subtrair. Patenteou então o seu invento e en­viou um modelo do mesmo à protetora real do saber, a Rainha Cristina da Suécia, dela esperando algum benefício, o que, porém, não conseguiu obter. Era muito dispendioso mon­tar o engenho de modo a que o mesmo se tor­nasse completamente operacional. Não obs­tante, foi essa máquina a precursora da estru­tura mecânica que deu origem à atual caixa-registradora.

Pascal manteve correspondência com o matemático e advogado Fermat e, junta­mente com este, trabalhou em problemas que a eles havia proposto um certo jogador da so­ciedade e filósofo amador, o qual se mostrava perplexo diante do fato de perder dinheiro em apostas feitas sobre determinadas combina­ções no jogo de três dados. Ao tentarem equacionar o problema, os dois cientistas lan­çaram os fundamentos da moderna teoria da probabilidade.

Isso teve inestimável importância para o desenvolvimento da ciência porque insuflou na matemática (e no mundo em geral) a neces­sidade da certeza absoluta. Os homens come­çaram a ver que informações úteis e seguras poderiam ser obtidas até mesmo sobre assun­tos em torno dos quais reinava a mais comple­ta incerteza. Ao-cair sobre uma superfície, de­terminada moeda pode mostrar ou cara, ou coroa, mas esta ou aquela, em qualquer parti­cular instância, são impredizíveis. Contudo, ao lançar-se essa moeda um grande número de vezes, separadamente imprevisíveis, podem-se tirar, com razoável segurança, con­clusões quanto à natureza geral desses lança­mentos (assim como, da mesma forma, pode-se concluir que o número de vezes em que dá cara será aproximadamente igual ao que dá coroa).

Dois séculos depois, o físico e matemático Maxwell aplicou tais considerações ao comportamento da matéria e obteve resulta­dos ininteligíveis, fortuitos, e movimentos to­talmente imprevisíveis por parte de átomos in­dividuais.

Pascal dedicou-se também à física. Ao es­tudar os fluidos, salientou que a pressão exer­cida sobre estes em recipiente fechado era transmitida com progressiva diminuição por todas as partes do fluido e que a mesma atua­va em ângulo reto sobre todas as superfícies que tocava. Este é o chamado princípio de Pascal, que constitui a base da pressão hi­dráulica e que por ele foi descrita do ponto de vista teórico.

Se um pequeno pistão for pressionado para baixo em um recipiente que contenha li­quido, um grande pistão poderá ser empurra­do para cima, em outro lugar, dentro do mes­mo recipiente. A força que impele para cima o pistão maior será a que impele o menor para baixo, assim como a área da secção transver­sal daquele será a da secção transversal deste. Essa multiplicação de força é devida ao fato de o pistão menor mover-se ao longo de uma distância correspondentemente maior do que a que percorre o pistão maior. Como no caso da alavanca de Arquimedes, a força muItiplicada pela distância é igual em ambos os lados. A rigor, a pressão hidráulica constitui uma espécie de alavanca.

Pascal também demonstrou interesse pela nova concepção sobre a atmosfera lançada por Torricelli. Se a atmosfera tinha peso, então esse peso diminuiria com a altitu­de, pois quanto mais alto nos elevamos, me­nos ar existe acima de nós. Essa diminuição do peso atmosférico pode ser detectada atra­vés do barômetro.

Pascal foi um enfermo crônico, que sofria continuamente de indigestão, cefaléias (um exame post mortem demonstrou que seu crâ­nio apresentava deformaçôes) e insônia, sen­do, por isso, incapaz de escalar uma monta­nha com suas próprias forças. Certa vez, po­rém, em 1646 ordenou a seu jovem e forte cunhado que galgasse as encostas do Puy­de- Dôme (montanha perto da qual Pascal nas­cera) com dois barômetros. O cunhado subiu cerca de uma milha e constatou que as colu­nas de mercúrio dos mesmos haviam baixado de três polegadas. O cunhado de Pascal viu-se obrigado a fruir das delícias do alpinismo por mais cinco vezes, a fim de que o sábio pudes­se repetir a experiência. E isso estabeleceu definitivamente a procedência da concepção torricelliana, apesar da persistente desconfi­ança de Descartes. Provou também a experi­ência, além disso, que havia vácuo acima da atmosfera, o que anulava o cepticismo cartesi­ano quanto à possibilidade de existência de vácuo e sua alegação de que todo o espaço estaria ocupado pela matéria. (Pascal repetiu também a experiência original de Torricelli,

usando vinho tinto em lugar de mercúrio. Por ser esse vinho sempre mais leve do que a água, Pascal teve de usar um tubo de 13,8m de comprimento a fim de que o mesmo conti­vesse fluido bastante para contrabalançar o peso da atmosfera.)

No mesmo ano da escalada da montanha, Pascal começou a sofrer a influência do janse­nismo (corrente de pensamento católica mar­cada por forte sentimento antijesuítico). Em 1654 escapou por pouco de morrer quando os cavalos de sua carruagem dispararam. Pascal interpretou o incidente como uma evidência do descontentamento divino e sua conversão tornou-se suficientemente fervorosa para levá-lo a consagrar o resto de sua breve exis­tência à meditação, ao ascetismo, aos escritos religiosos (entre os quais se incluem as céle­bres Pensées [Pensamentos]) e à enfermida­de. Tais escritos são excepcionais e inspira­dos em Voltaire, mas Pascal jamais vol­taria a ocupar-se de ciência, a não ser durante uma semana, em 1658, quando, para aliviar as dores de dente que então o atormentavam, re­solveu distrair-se com um problema geométri­co, que solucionou com grande simplicidade. É fato que, em seus últimos dias de vida, Pas­cal declarou que a razão jamais poderia servir como instrumento capaz de compreender o universo fenomênico, retrocedendo assim para aquém dos tempos de Tales.Sua observação mais notável nada tem a ver com a ciência. Foi a de que, se o nariz de Cleópatra fosse modelado de outra manei­ra, é possível que a história do mundo tivesse sido alterada.

Nenhum comentário: