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segunda-feira, 27 de abril de 2009

NEWTON, Sir Isaac

Cientista e matemático inglês nascido em Woolsthorpe, Lincolnshire, 25 de dezembro de 1642 faleceu em Londres, 20 de março de 1727.Pelo calendário Juliano, Newton havia nascido no dia de Natal, mas, pelo Gregoria­no que hoje usamos, nasceu em 4 de janeiro de 1643.

Julgado por alguns autores como a maior inteligência já aparecida na Terra, Newton iniciou sua vida sob péssimos auspícios. Nas­ceu prematuro e praticamente morto (no ano da morte de Galileu [149]). Seus primeiros dias de vida foram precários e, quando tinha três anos, sua mãe casou-se novamente e dei­xou o menino aos cuidados dos avós. (O pa­drasto morreu quando Newton ainda era um escolar.) Na escola, era um garoto estranho, interessado em construir dispositivos mecâni­cos projetados por ele mesmo, tais como pa­pagaios, relógios solares e de água, etc. Era curioso acerca do mundo, mas não demons­trava nenhum brilho excepcional. Parecia até lerdo em seus estudos, até que, quando ado­lescente. começou a esforçar-se para ultrapas­sar o fanfarrão de sua turma, que, por acaso, também era o primeiro aluno.

Em fins de 1650, foi retirado da escola para ajudar sua mãe a cuidar da fazenda e transformou-se imediatamente no pior fazen­deiro do mundo. Seu tio, membro do Colégio da Trindade, de Cambridge, pressentindo o sábio latente no menino, conseguiu mandá-lo para Cambridge. Ali chegou Newton em 1660 e diplomou-se em 1665, sem distinção particu­lar.

A peste assolava Londres, e Newton retirou-se para a fazenda de sua mãe a fim de escapar à doença. Nessa época, já havia ela­borado o teorema dos binômios, artifício ma­temático segundo o qual a soma de duas fun­ções elevadas ao quadrado pode ser expandi­da em uma série de termos, de acordo com uma lei simples. Estava desenvolvendo então os princípios dos futuros cálculos.

Algo de muito maior importância, porém, aconteceu durante sua estada na fazenda ma­terna. Viu uma maçã cair no chão e passou a imaginar se a mesma força que atraía a fruta para baixo também mantinha a Lua presa. Depois de meio século, as leis de Kepler estavam finalmente aceitas e Newton usou-as em sua comparação entre a maçã e a Lua. (Muitos autores consideram a história da maçã como um mito, mas, segundo as pró­prias palavras de Newton, ela teria realmente ocorrido.)

E necessário ter em mente que, segundo a filosofia de Aristóteles, durante toda a antiguidade e toda a era medieval, existia a crença de que objetos situados na Terra e no céu obedeciam a dois conjuntos de leis dife­rentes, principalmente no que dizia respeito ao movimento. Era, portanto, um golpe de in­tuição audacioso afirmar ser idêntica a força que atua sobre a maçã e sobre a Lua.

Newton redigiu então sua famosa lei: “A velocidade da queda é proporcional à força da gravidade, e essa força diminui com o quadra­do da distância até o centro da Terra”. (E a famosa lei do inverso do quadrado.) Para po­der comparar as velocidades das quedas res­pectivas da maçã e da Lua, Newton tinha de descobrir quantas vezes a Lua era mais dis­tante do centro da Terra que a maçã; em ou­tras palavras: qual era a distância até a Lua em termos de diâmetros terrestres. Ficou tre­mendamente desapontado quando verificou que seus cálculos apenas forneciam sete oita­vos do valor real. A diferença parecia sufici­ente para invalidar toda sua teoria.

É possível, segundo alguns autores, que tenha usado um valor estimado do raio da cir­cunferência terrestre um pouco inferior ao real. De acordo com sua teoria, a força da gravidade diminuiria então mais rapidamente com o quadrado da distância até a Terra e a Lua sofreria uma queda, em direção à Terra. menos acentuado que realmente é. (A que­da da Lua vem a ser o desvio constante da linha reta que mantém o satélite em uma órbi­ta circular sem todavia deixá-lo aproximar-se demais da Terra.)

Outros asseguram que Newton havia vaci­lado por não ter certeza de poder lançar mão da distância até o centro da Terra para deter­minar a força da gravidade. Poderia o vasto globo terrestre ser reduzido a um ponto cen­tral, em termos de atração lunar? A elabora­ção da técnica matemática apropriada devolveu-lhe a tranquilidade a esse respeito.

A segunda hipótese parece mais plausível. Porém, de qualquer maneira, Newton aban­donou o problema da gravitação por mais de 15 anos.

No mesmo período, isto é, de 1665 a 1666. Newton realizava surpreendentes experiên­cias no campo da óptica, inspiradas talvez pela leitura do livro de Boyle [186] sobre co­res. As descobertas ópticas de Kepler tam­bém suscitaram seu interesse. Deixou um raio de luz entrar em um quarto escuro, por uma fenda de uma cortina, e o fez passar por um prisma de vidro antes de recebê-lo sobre uma tela. A luz sofria o fenômeno de refração. Seus diversos constituintes, porém, diver­giam, e sobre a tela incidia, não um ponto de luz alargado mas uma faixa de cores consecu­tivas na ordem familiar do arco-íris: verme­lho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo.

Era possível imaginar que essas cores eram criadas pelo prisma, mas Newton de­monstrou que já estavam presentes na luz branca, a qual não passava da combinação dessas cores. A prova consistiu em fazer pas­sar o arco-íris por um segundo prisma, de ori­entação diametralmente oposta ao primeiro, e obter assim uma nova combinação das cores que, recebida sobre uma tela, mostrava uma luz branca. Se um prisma era atravessado por apenas uma das cores, o feixe podia ser alar­gado ou estreitado, na dependência de sua in­cidência, porém não ocorria nenhuma outra decomposição cromática.

(Ninguém sabe exatamente por que New­ton não citou as linhas escuras que limitam o espectro. E óbvio que em algumas de suas experiências elas devem ter aparecido. Mas, como possuía um assistente, uma vez que so­fria de baixa acuidade visual, esse pode não ter achado as raias pretas importantes e não as ter relatado. Essa descoberta, de suma importância, teria de esperar ainda um século e meio antes de ser anunciada por Wollaston e Fraunhofer.)

Suas experiências com o prisma tomaram Newton famoso. Em 1667, voltou para Cam­bridge e ali permaneceu por mais de 30 anos. Em 1669, seu professor de matemática demitiu-se em seu favor e, com a idade de 27 anos, Newton tomou-se professor Lucasiano de matemática da Universidade de Cambrid­ge. (A cadeira havia recebido o nome de Hen­ry Lucas, cujo dinheiro a mantinha e a havia criado.) Um edital especial da Coroa tomou desnecessário seu ingresso nas ordens religio­sas a fim de conservar seu emprego. No perí­odo de um ano proferiu umas oito conferên­cias (número relativamente pequeno) e pas­sou o resto de seu tempo mergulhado em pes­quisas e meditações.

Em 1672, foi eleito membro da Royal Soci­ety perante a qual se apressou em descrever suas experiências com cores e luzes. Com a mesma diligência tomou-se inimigo de Robert Hooke.

Hooke havia realizado algumas experiên­cias com luz e prismas, porém, como sempre, não havia chegado a nenhuma conclusão cor­reta. e havia emitido apenas meias explica­ções. Contudo, investiu violentamente contra Newton e. durante o resto de sua vida, man­teve acesa essa antipatia claramente provoca­da por ciúme.

Se, por um lado, Newton constitui uma das maiores inteligências que já apareceram no mundo, por outro era um triste exemplar de ser humano. Nunca se casou e. com a ex­ceção de um débil romance de mocidade, nun­ca deu mostras de perceber a existência das mulheres ou de se interessar por elas. Era ri­diculamente distraído e sempre preocupado com assuntos destituídos de interesse para os que o cercavam. Era extremamente suscepti­vel à crítica e infantil em suas reações à mes­ma. Várias vezes ameaçou nunca mais publi­car trabalhos científicos se continuasse o alvo de restrições por parte do mundo científico. Em 1673, em um rasgo de petulância, tentou desligar-se da Royal Society. Como sua de­missão não fora aceita, as relações entre o fí­sico e a Sociedade permaneceram frias.



Mas o ódio experimentado por Newton em relação às críticas não o impediu de ser tão agressivo quanto Hooke, embora de ma­neira muito menos aberta. Evitava envolver-se pessoalmente em controvérsias, mas com­prometia seus amigos. Instigava-os e depois não movia um dedo para protegê-los.

Newton e Leibniz desenvolveram in­dependentemente, e quase que simultanea­mente, o cálculo. Durante vários anos o fato pareceu carecer de qualquer importância. Newton e Leibniz eram amigos, mas, quando a fama de ambos começou a crescer, algumas pessoas começaram a substituir seu bom sen­so por um exagerado patriotismo. Como de costume, Newton havia atrasado a publicação de sua descoberta, o que tornou o assunto ainda mais confuso. Tornou-se subitamente muito importante saber se a primazia da des­coberta cabia a um inglês ou a um alemão. Travou-se acirrada batalha, durante a qual os dois sábios acusavam-se mutuamente do rou­bo da idéia.

Nenhum furto intelectual havia sido come­tido. Os dois matemáticos eram inteligências de destaque capazes de descobrir o cálculo. especialmente porque esse ramo da matemáti­ca estava enfocado e já havia sido esboçado por Fermat. Mas a luta seguia seu curso com Newton a instigar secretamente seus se­guidores.

O cálculo vem a ser um processo matemá­tico indispensável ao desenvolvimento cientí­fico. Por uma questão puramente nacionalis­ta, os matemáticos ingleses teimaram em utili­zar a técnica newtoniana apesar de ser a de Leibniz muito mais prática. Isolaram-se por­tanto dos avanços realizados no Continente no campo da matemática, que permaneceu moribunda na Grã-Bretanha por mais de um século.

Suas experiências com luzes e cores leva­ram Newton a especular sobre a própria natu­reza da luz. Alguns cientistas, entre os quais o onipresente Hooke e Huygens, acredi­tavam ser a luz, à semelhança do som, consti­tuída por um movimento ondulatório periódi­co. Todavia, para Newton, o movimento reti­líneo da luz e suas sombras nítidas consti­tuíam fatos fundamentais. O som, como movi­mento ondulatório, podia contomar um obstá­culo e ser ouvido atrás do mesmo. A luz não possuía essa propriedade. Só pode ser vista atrás de um obstáculo, por meio de um espe­lho. O inglês concordava portanto com De­mócrito o qual afirmara ser a luz consti­tuída por um fluxo de partículas que se mo­vem do objeto luminoso até os olhos do ob­servador.

A teoria das partículas estava longe da perfeição. Grimaldi havia prova­do que o raio luminoso sofria uma leve distor­ção na proximidade de um obstáculo, o que não era possível explicar pela teoria das partículas. Em seguida apareceu o fenômeno da dupla refração, descoberto por Bartholin e ainda mais difícil de explicar dessa ma­neira. A fim de lidar com essas contradições. Newton desenvolveu novas linhas de pensa­mento bastante sofisticadas para sua época. Atualmente, a teoria moderna da luz tende a retomar o caminho de alguns raciocínios new­tonianos. Contudo, os seguidores do físico abandonaram seus pensamentos mais elabora­dos e resumiram sua teoria em um conjunto linear de partículas animadas de grande velo­cidade que manteve a soberania da teoria das partículas sobre a teoria ondulatória por mais de um século, graças ao imenso prestígio de Newton. (Durante todo o século XVIII e par­te do XIX, o nome de Newton iria adquirir o mesmo efeito de peso morto tido por Aristó­teles nos séculos XVI e XVII.)

Newton não via nenhum meio de impedir a formação do espectro luminoso, formado pela passagem da luz através de prismas e len­tes. Por essa razão. os telescópios da época atingiram seu limite máximo de alcance. Não fazia sentido construí-los maiores e espe­rar maiores aumentos. A luz. ao passar pelas lentes. desenhava sombras coloridas em torno da imagem dos astros e turvava assim os deta­lhes (o fenómeno é conhecido hoje como aberração cromática).

Por isso, em 1668, Newton concebeu um telescópio refletor que concentrava a luz por reflexão a partir de um espelho parabólico, em lugar da refração através de uma lente. Ja­mes Gregory o havia antecipado teorica­mente mas não na prática.

O telescópio refletor apresentava duas vantagens sobre o refrator: a luz não passa pelo vidro mas é refletida sobre sua superfí­cie. de modo que não ocorre o fenômeno de absorção luminosa; em segundo lugar. elimina-se a aberração cromática.

O telescópio refletor constituiu um enorme avanço, O primeiro a ser fabricado por New­ton media 15cm de comprimento e 2,5cm de diâmetro, um simples brinquedo, mas amplia­va de 30 a 40 vezes. Em 1671. construiu um maior com 23cm de comprimento e 2.5cm de diâmetro, o qual apresentou ao Rei Carlos II e perante a Royal Society que escolheu a oportunidade para elegê-lo membro. Até hoje conserva o telescópio. Imediatamente Hooke fabricou um outro telescópio. de acordo com as especificações de

Gregory. algo diferente das de Newton, mas o aparelho não resultou tão bom.

Os grandes telescópios modernos são do tipo refletor. Mesmo assim Newton estava enganado. E possível construir um telescópio refrator e eliminar a aberração cromática, o que foi conseguido por Dollond, pouco depois da morte de Newton.

A década de 1680 iria tornar-se o ponto culminante da vida de Newton. Em 1684. Ho­oke encontrou-se com Wren e Halley e vangloriou-se, com seu jeito odioso. de ter descoberto as leis que regem os movi­mentos dos corpos celestes. Wren não se dei­xou impressionar pelas explicações de Hooke e ofereceu um premio para quem descobrisse a solução do problema.

Halley, que era amigo de Newton, apre­sentou-lhe o enigma e lhe perguntou como os planetas podiam orbitar. se entre objetos sóli­dos existia a força de atração que se enfraque­cia em uma razão equivalente ao quadrado da distância que separava esses objetos.

Newton respondeu imediatamente:

— Por meio de elipses.

— Mas como é que o senhor sabe?

— Porque eu já o havia calculado.

E Newton contou-lhe a respeito de suas especulações teóricas realizadas em 1666, ano da grande epidemia de peste. Muito excitado. Halley instigou Newton a retomar o proble­ma.

Agora as coisas eram diferentes. Newton conhecia um valor mais acurado para o raio terrestre, determinado por Picard. Além do mais, havia levado o cálculo a um ponto tal que podia afirmar que as diversas partes de um corpo esférico, "respeitando-se algu­mas condições de densidade”, podiam exer­cer suas forças de atração, de forma que o corpo, considerado em conjunto, com­portava-se como se toda a atração fosse exer­cida apenas pelo seu centro.

Ao repetir seus velhos cálculos, pareceu­lhe que dessa vez a resposta iria surgir. Se­gundo consta, ficou tão agitado com essa possibilidade que se viu obrigado a interrom­per suas pesquisas e deixar um amigo conti­nuar em seu lugar.

Newton começou então a redação de um livro que incorporava todos esses conheci­mentos. completou-o em 18 meses e o publi­cou em 1687. Intitulou-o: Philosophiae Natu­ralis Principia M athematica (Princípios Mate­máticos da Filosofia Natural).

Era escrito em latim e somente em 1729 foi traduzido para o inglês, 42 anos depois de sua publicação

É considerado como o maior traba­lho científico jamais escrito. Era, por exem­plo, a opinião de Laplace cuja tendência para elogiar obras alheias igualava a do pró­prio Newton. Apesar de ter descoberto o cál­culo, Newton provou suas teorias por meio de um raciocínio geométrico. já fora de moda. Constitui assim a obra o último grande traba­lho científico elaborado no velho estilo grego.

Nele, o astrônomo codifica as descobertas de Galileu nas três leis da cinética. A primeira enuncia o princípio da inércia: um corpo em repouso permanece em repouso e um corpo em movimento permanece em movimento com uma velocidade constante até que surja a interferência de uma força externa. Essa pri­meira lei confirmava a opinião de Buridano. de 3 séculos atrás, e tornava desneces­sária a intervenção de espíritos ou de anjos na manutenção do movimento dos astros. O movimento existia porque nada havia no espa­ço para obstá-lo uma vez dado o impulso ini­cial.

A segunda lei da cinética define a força em termos de massa e aceleração. Constitui por­tanto a primeira distinção clara entre a massa de um corpo (que representa sua resistência à aceleração; em outras palavras, a quantida­de de inércia que possui) e seu peso (que re­presenta a quantidade de força de gravidade que existe entre esse corpo e um outro, habi­tualmente à Terra.)

Finalmente, a terceira lei reza que para cada ação aparece uma reação igual e que se exerce em sentido oposto. Essa lei adquiriu grande destaque na época atual, porque cons­titui o princípio de funcionamento dos fogue­tes. Newton estudou o comportamento de ob­jetos móveis no vácuo e depois em meios que oferecem determinada resistência. Em relação a essa última situação, descortinou os funda­mentos da aeronáutica moderna.

A partir das 3 leis, Newton foi capaz de deduzir como atuava a força da gravidade en­tre a Terra e a Lua. Demonstrou que era dire­tamente proporcional ao produto das massas dos dois corpos e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa o centro dos dois planetas. A proporcionalidade pode ser transformada em igualdade pela introdu­ção de uma constante. Daí resultou a famosa equação:





onde m1 e m representam as massas respecti­vamente da Terra e da Lua, d a distância en­tre seus centros, G a constante gravitacional e F a força de atração entre os dois astros.

Representou espantoso golpe de intuição o fato de Newton ter afirmado ser essa lei vá­lida entre dois corpos celestes situados em qualquer região do universo. Tornou-se assim conhecida sob o nome de lei da gravitação universal. Cavendish [263], um século depois, iria determinar o valor de G e, assim, a massa da Terra que Newton já havia estimado corre­tamente, como também fez com as massas de Júpiter e Saturno.

Tornou-se rapidamente evidente que a lei da gravitação universal era extremamente po­derosa e poderia explicar os movimentos de todos os corpos celestes até então conheci­dos. Explicava todas as leis de Kepler e a pró­pria precessão dos equinócios. As pequenas irregularidades observadas nos movimentos planetários podiam ser interpretadas como o resultado da superposição de suas atraçoes mútuas (perturbações) com a gigantesca atra­ção solar. A lei resolvia também o problema das variações complexas do movimento lunar. (Newton admitiria mais tarde que esse movi­mento, que Kepler não havia sido capaz de explicar, constituiu o único problema que lhe dera dores de cabeça.) Em seu livro, incluiu um desenho que exemplificava como a força da gravidade poderia controlar o movimento de um satélite artificial.

Seu grande livro foi publicado em uma edi­ção de apenas duas mil e quinhentas cópias. Contudo, foi bem recebido pela crítica, tendo seu valor sido imediatamente reconhecido pelo mundo científico. Representava o ponto culminante da revolução científica iniciada por Copérnico [1161, um século e meio antes. Nas mãos de Newton, ela se transformou em algo maior que uma simples explicação práti­ca de medições e equações que filósofos teóri­cos podiam julgar indigna de ser comparada às grandes cosmologias dos antigos.

Newton havia portanto enfrentado os gre­gos no campo de suas idéias mais sólidas e os havia derrotado. O Principia Mathematica permitiu o desenvolvimento de um esquema universal global, muito mais elegante e claro que aqueles concebidos durante a Antiguida­de, O esquema newtoniano apoiava-se em um conjunto reduzido de hipóteses tão simples, desenvolvidas a partir de um raciocínio mate­mático tão claro e tão sedutor que os conser­vadores não encontravam a coragem necessá­ria para combatê-lo. Huygens viajou para a Inglaterra com o expresso propósito de en­contrar seu autor.

Newton havia assim mergulhado em plena Idade da Razão, durante a qual os eruditos iriam desenvolver o princípio de que qualquer problema podia ser resolvido pela aceitação de alguns poucos axiomas, elaborados a partir da observação cuidadosa dos fenômenos natu­rais e do emprego cuidadoso da ciência mate­mática. A realidade revelou-se um tanto ou quanto mais complicada mas, durante todo o século XVIII. o homem mergulhou na glória de um novo otimismo intelectual, desconheci­do até então, e que não haveria de ocorrer no­vamente.

Contudo, a publicação do livro provocou alguns problemas para seu autor. A Royal So­ciety, responsável pela publicação, estava com poucos recursos e a briga de Newton com Hooke estava em seu auge. Esse último outorgava-se a prioridade da descoberta e for­necia como prova uma carta que tratava do assunto e que teria mandado para Newton 6 anos antes. Exasperado, Newton foi final­mente obrigado (contra as inclinações de sua natureza pouco generosa) a incluir em sua obra um curto parágrafo, no qual cita algumas conclusões dos trabalhos de Hooke, Wren e Halley, conclusões desenvolvidas por ele com muito maiores detalhes. Mesmo assim, a Royal Society, então sob a presidência de Sa­muel Pepys, o diarista, recusou envolver-se nessa disputa sórdida e voltou atrás em seus entendimentos quanto à publicação da obra.

Felizmente. Halley. homem de muitas posses. comprometeu-se a custear as despesas da publicação, arrumou as ilustrações e leu as provas de prelo. Por meio de um trabalho insa­no, conseguiu manter Hooke quieto e ador­meceu a natureza hipersensitiva de Newton. Quando o livro foi finalmente lançado, vários homens de ciência adotaram imediatamente a nova tese.

Mas as brigas contínuas e o terrível esfor­ço mental exigido pelas suas descobertas ma­temáticas estavam arrasando Newton. (Quan­do Halley perguntou-lhe certo dia como havia sido o primeiro a realizar tantas descobertas, Newton respondeu que conseguia resolver seus problemas, não pela inspiração ou pela intuição súbita, mas por um esforço contínuo de pensamento até chegar à conclusão deseja­da. A frase é provavelmente o retrato fiel da verdade. Se existisse algo como o suor men­tal, é certo que Newton nele se teria afogado. Além do mais, detestava distrações e uma vez xingou Halley por ter feito uma observação jocosa.)

Como se não bastassem seus trabalhos no campo da matemática e da física. Newton passou muito tempo da última parte de sua vida tentando descobrir a receita da fabrica­ção do ouro. (Acreditava cegamente em trans-mutação e escreveu meio milhão de palavras sem nexo que tratavam de química.) Especu­lava infindavelmente sobre assuntos teológi­cos e chegou a escrever um milhão e meio de palavras estéreis que analisavam os capítulos mais místicos da Bíblia.

Como Kepler, tentou calcular o dia da cri­ação e o situou em torno de 3500 a.C. Rejuve­nesceu assim a Terra de 500 anos. A ciência somente conseguiria livrar-se da cronologia bíblica um século depois. com os trabalhos de Hutton.

Aparentemente, Newton havia conseguido livrar-se da noção unitarista mas guardou-se cuidadosamente de divulgar sua opinião a res­peito; não poderia ter permanecido em Cam­bridge se tivesse negado abertamente a divin­dade de Cristo.

Mas, em 1692, seu espírito sempre ocupa­do cambaleou. Sofreu um colapso nervoso e retirou-se do cenáculo científico por mais de dois anos. Segundo uma lenda famosa, o co­lapso teria sido precipitado por um pequeno desastre, no qual Diamond. cão do matemáti­co, teria derrubado um candeeiro e queimado anos de cálculos acumulados. "Oh. Diamond, Diamond,” ter-se-ia lamentado o pobre New­ton, “ignoras completamente o prejuízo que me deste.” (A história não deve ser verídica porque é muito duvidoso que Newton jamais tivesse possuído um cão.)

Nunca voltou a ser o mesmo embora va­lesse 10 homens comuns. Por exemplo, quan­do em 1696 um matemático suíço apresentou dois problemas novos e desafiou os sábios eu­ropeus para resolvê-los, Newton remeteu anonimamente as soluções, um dia depois. O desafiante não se deixou enganar e afirmou:

“Reconheço a garra do leão.” Em 1716, quando Newton completava 75 anos, Leibniz inventou um novo problema com a precípua finalidade de embaraçá-lo. Uma tarde bastou para encontrar a solução.

Em 1687. Newton defendeu os direitos da Universidade de Cambridge perante o impo­pular Rei Jaime II, sem muito alarido porém de maneira eficiente. Como resultado, em 1689, após Jaime ter sido afastado do trono e exilado, Newton foi eleito membro do Par­lamento. Ocupou o cargo durante vários anos mas nunca proferiu um discurso. Em uma oportunidade levantou-se. Fez-se imediata­mente um profundo silêncio para ouvir o gran­de homem. Pediu apenas que se fechasse uma janela porque havia uma corrente de ar que o incomodava.

Os infelizes esforços de seus amigos con­seguiram com que fosse nomeado administra­dor da casa da moeda em 1696 e promovido a diretor em 1699. Tornou-se assim responsa­vel pela emissão da moeda inglesa e recebia um salário altamente compensador. Quando morreu deixou um patrimônio avaliado em 30.000 libras (da época). Essa nomeação foi considerada como justamente devida a New­ton porém, como decretou o fim de sua carrei­ra científica, tratou-se de um verdadeiro cri­me. O matemático demitiu-se de seu cargo de professor para atender aos novos deveres. Iniciou seu trabalho com tamanho vigor e in­teligência que revolucionou a cunhagem da moeda e tornou-se o terror dos falsificadores.

Em 1703. foi eleito presidente da Royal Society (obviamente depois da morte de Hoo­ke) e foi reeleito cada ano, até sua morte. Em 1704. escreveu Opticks que resumia seus tra­balhos sobre a natureza da luz. Ao contrário de Principia, Opticks era redigido em inglês mas foi imediatamente traduzido para o latim a fim de ser divulgado entre os eruditos do Continente.

Seu cabelo havia-se tornado grisalho com a idade de 30 anos. mas as faculdades mentais mantiveram-se firmes até a velhice. Com 80 anos ainda possuía todos os dentes, via e ou­via perfeitamente e seu espírito continuava plenamente lúcido. Contudo, o trabalho na chefia da casa da moeda neutralizou-lhe o vi­gor e impediu a redação de uma segunda edi­ção de Principia até 1713.

Newton mereceu e obteve o respeito de seus contemporâneos como nenhum outro ci­entista havia conseguido antes (excetuando-se talvez Arquimedes [41]) ou conseguiria depois (com a possível exceção de Einstein [883]). Quando morreu foi sepultado na Abadia de Westminster. ao lado dos grandes heróis in­gleses. O grande literato francês Voltaire [227]. que nessa época visitava a Inglaterra comentou, surpreso. que a Grã-Bretanha hon­rava um matemático como as outras nações honravam um rei. A inscrição latina gravada em seu túmulo termina com a seguinte frase: “Mortais! Alegrem-se por tal jóia pertencer à raça humana!” Mesmo assim o orgulho nacio­nal ainda era poderoso e havia no Continente certa relutância em aceitar o sistema newtoni­ano. Levaria ele uma geração para alcançar a vitória definitiva.

Newton possuía a virtude da modéstia (ou. se não, pelo menos era bastante hábil para assumi-la). Teria pronunciado duas frases fa­mosas. Disse em uma carta endereçada a Ho­oke. em 1676: “Se consegui ver mais longe que outros seres humanos é porque subi em ombros de gigantes.” Teria também afirmado:

“Não sei que aspecto tomo aos olhos do mun­do. mas, para mim, tenho a impressão de ter sido uma criança que brinca à beira-mar e se diverte em descobrir um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que as outras, en­quanto que o imenso oceano da verdade per­manece misterioso perante meus olhos.”

Contudo, outros homens, contemporâneos de Newton, subiram nos ombros dos mesmos gigantes e brincaram à beira dos mesmos ma­res. mas apenas ele, e mais ninguém, viu mais longe e achou os seixos mais lisos.

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