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segunda-feira, 27 de abril de 2009

LAPLACE, Pierre Simon,

Astrônomo e matemático francês nascido em Beaumont-en-Auge. Calvados, 28 de março de 1749 faleceu em Paris, 5 de março de 1827

Pouco se sabe dos primeiros anos da vida de Laplace. Como era muito esnobe, durante sua carreira de cientista, escondia sua origem. Sua familia devia ser de poucas posses e acredita-se que vizinhos abastados tenham pago os estudos do menino obviamente bem dotado. No entanto, algumas pesquisas bio­gráficas mais recentes tendem a indicar que sua família teria pertencido á rica burguesia.

Com 18 anos, mandaram-no a Paris com uma carta de apresentação para D Alembert que se recusou a recebê-lo. Laplace mandou-lhe então um trabalho sobre mecânica tão bom que D’Alembert ficou subita­mente encantado de ser seu tutor. Obteve para o jovem cientista uma cadeira de mate­matíca.

No início, Laplace trabalhou com Lavoi­sier na determinação do calor específico de várias sustâncias. Em 1780. os dois pes­quisadores demonstraram que a quantidade de calor necessária para decompor um com­posto em seus elementos constituintes é igual á quantidade de calor necessária á, reação in­versa. A descoberta pode ser considerada como o inicio da termometria e como um outro índice — depois dos trabalhos de Black sobre calor latente — da futura doutrina da conservação da energia. que atingiria a ma­turidade 6 décadas mais tarde.

Contudo, Laplace voltou suas atenções para o estudo das perturbações observadas no sistema solar e para o mistério da estabilidade do mesmo. Os mesmos problemas já estavam intrigando Lagrange. Em 1787. Laplace demonstrou que a aceleração da Lua era um pouco maior que a permitida pelas explica­ções emitidas anteriormente. Atribuiu o fato ao lento decréscimo da excentricidade da Terra, sob a influência dos outros planetas. Isso significava que a influência gravitacional da Terra sobre a Lua modificava-se lenta-mente. Essa modificação não havia sido le­vada em conta antes e explicava a diminuta quantidade adicional de aceleração do sate­lite. Estudou também certas anomalias dos movimentos de Júpiter e Saturno e. com a ajuda dos trabalhos de Lagrange. provou que decorriam por causa da influência da gravita­ção de um planeta sobre o outro.

Laplace e Lagrange. trabalhando em luga­res diferentes mas em perfeita cooperação. trataram de generalizar o assunto. Por exem­pIo, calcularam que a excentricidade total das órbitas planetárias do sistema solar devia permanecer constante, uma vez que todos os planetas orbitam na mesma direção (o que re­almente acontece). Se um planeta aumenta a excentricidade de sua órbita, os outros devem diminuir sua própria excentricidade de ma­neira semelhante para manter o equilíbrio. A mesma constância mantém a órbita planetária inclinada em relação ao plano da eclíptica. A quantidade total de excentricidade e inclina­ção de todo o sistema solar é tão pequena que nenhum planeta pode modificar suas caracte­rísticas orbitais.

Demonstrou-se assim que, enquanto o sistema solar permanecer isolado e a natureza do Sol não se modificar drasticamente, nosso sistema permanecerá tal como está por um período indefinido.

De certa maneira, Laplace completou os trabalhos de Newton no campo da as­tronomia planetária e é, às vezes, chamado de Newton francês. Maiores precísoes esperariam por Leverrier e Poincaré. respectivamente 50 e 100 anos depois.

Laplace desenvolveu toda a sua teoria planetária em uma obra monumental com­posta de 5 livros e intitulada Mecânica Celestial Os volumes foram editados entre 1799 e 1825. Apesar de uma intromissão na política, seu trabalho não sofreu interrupção embora as mudanças de governo francês constituís­sem um sério risco. Assistiu à ascensão e a queda de Napoleão. Estava protegido por seu prestígio e por sua habilidade em resolver problemas de balística por meio da matema­tica. Adaptava-se também admiravelmente a mudanças políticas e a circunstâncias às ve­zes adversas.

Outra faceta pouco agradável de sua per­sonalidade consistia em não reconhecer o va­lor de outros cientistas (à semelhança de La­voisier). Cita apenas a contribuição de La­grange ao trabalho comum sobre mecânica ce­leste. O delicado Lagrange nem se apercebeu do fato.

Napoleão nomeou Laplace ministro do in­terior mas, quando se comprovou sua incom­petência, foi removido para o posto pura­mente decorativo de senador. Mesmo assim, quando, após a queda do imperador, Luís XVIII subiu ao trono; não somente Laplace não foi molestado (ao contrário de Hàuy e de Chaptal) mas ainda recebeu o título de marquês. Outras honrarias vieram. Em 1785, foi eleito para a Academia de Ciências. o que já era de se esperar. Em 1816, foi eleito membro da sociedade literária mais exclusiva e mais enaltecida do mundo: a Academia Francesa e, em 1817, tornou-se seu presi­dente.

Diga-se de passagem que Mecânica Celes­tial ficou famosa pelo hábito que tinha seu au­tor de afirmar que de uma equação A é óbvio que segue a equação B. Estudiosos levam ho­ras, e até dias, para entender por que o racio­cínio é tão óbvio. Conta-se que Napoleão, após haver folheado a obra, teria observado não haver menção de Deus. Laplace teria respondido: “Não necessito dessa hipótese.” Quando ouviu a histÓria, Lagrange afirmou:

“Mas é uma hipótese maravilhosa. Ela ex­plica tantas coisas.

No campo da matemática pura, Laplace, entre 1812 e 1820, escreveu um tratado sobre a teoria das probabilidades e deu a essa ciên­cia sua forma moderna.

Estranhamente, Laplace ficou mais co­nhecido por uma especulação publicada no rodapé de uma das últimas edições de um livro pouco matemático e destinado a vulgari­zar a astronomia. Ele mesmo não a levara muito a sério. Uma vez que todos os planetas giram em torno do Sol, na mesma direção e praticamente no mesmo plano, sugeriu que o sistema solar havia-se originado a partir de uma nebulosa gigante. ou seja, de uma massa de gás em rotação. A contração do gás pro­vocaria uma aceleração da rotação e um anel externo seria deixado para trás pela força centrífuga). O anel gasoso condensar-se-ia depois em um planeta. Com o prosseguimento da contração, outros planetas formar-se-iam. todos girando no mesmo sentido. O centro da nebulosa sofreria então uma contração final e formaria a estrela central.

Essa hipótese nebular estimulou a imagi­nação dos astrônomos e permaneceu como a explicação da formação do sistema solar mais popular durante o século XIX. Nas primeiras décadas do século XX. essa teoria sofreu um período de esquecimento mas voltaria a atin­gir grande popularidade sob uma forma modi­ficada por Weizsácker.

Kant 40 anos antes, já emitira uma teoria semelhante, embora não tão completa. E provável que Laplace a ignorasse comple­tamente.

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